TUDO É SILÊNCIO E SÓ A POESIA SUSSURRA
Fui a um evento de poesia em Foz do Iguaçu: “Leminski – Múltiplo”. Esta amostra está sendo apresentada no EcoMuseu de Foz do Iguaçu, a aproximadamente 800 metros da entrada da Usina Hidroelétrica de Itaipu. Mas já vou logo avisando que este é um evento diferente. Aqui, tudo vai remando no exato oposto de muitas ocasiões, a milhões de quilômetros de distância, para ser mais exato. Não há grandes plateias, mas apenas pequenas porções de transeuntes; não há autor querendo aparecer mais que o livro, o texto; não há sequer autor de carne e osso, talvez um sútil espírito Leminskiano pairando no ar para nos agradar; nós, pobres mortos-vivos; não há autor pousando para foto como se fosse modelo de capa de revista ou para publicar fotos em revistas de quinta categoria: fotos, casas, piscinas, carros e o escambau; lá não há ninguém apitando ou soltando gritinho ou batendo palmas, mesmo sem querer fazer esta última em muitas ocasiões. Não há coordenador, mediador, Conferencista, orador e o escambau; no máximo um organizador, claro. Tudo é silêncio e somente a Poesia sussurra, baixinho, para não incomodar o ambiente. Até o poeta fica em silêncio. Eu também. Somente sua poesia sussurra, em silêncio, claro. Apenas Monitores à paisana em silêncio e para passar informações quando necessário, baixinho para não incomodar a poesia ali falando, em silêncio, claro. Tudo é aroma e cheiro de perfume, como a Poesia. Na “sociedade do espetáculo” tudo parece se equivaler e nessa esteira muita gente quer aparecer tanto do lado de cá quanto do lado de lá do Atlântico; o problema é que muitas vezes querem aparecer mais que a Literatura e o Conteúdo que o livro pode conter. É um barulho ensurdecedor mas tudo parece enfadonho. Paradoxal. É “o espirito do tempo” (Zeitgeist) e não há como escapar. Neste evento em Foz do Iguaçu ‘ninguém aparece’ e só a Poesia desfila sua avassaladora potência poética. (Algumas fotos servem como “registro e para o ‘regime de veracidade’”. E também as imagens aqui fazem parte de outro regime discursivo). É “o espirito do tempo” (Zeitgeist).
…
Bom dia, poetas velhos.
Me deixem na boca
o gosto dos versos
mais fortes que não farei.
Dia vai vir que os saiba
tão bem que vos cite
como quem tê-los
um tanto feito também,
acredite.
…
Enxuga aí
vê se enxerga
essa lágrima
eu deixei cair
examina
examina bem
vê se é
água da pedra
ouro da mina
essa gotadágua
minha
obra prima
Paulo Leminski. Toda Poesia. 2013.
Não seja um velho poeta nem fique iludido achando que está na “última moda”. A “última moda” já é uma espécie de anacronia, como diz Nietzsche em “Considerações Intempestivas”.
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Este (Texto-Imagens-Texto) Texto e outros Textos vão estar oportunamente disponíveis na página “Impressões Temporárias”, na seção “Crônicas Urbanas”, Como parte da Coletânea “Crônicas de Viagem”.
1. TUDO É SILÊNCIO E SÓ A POESIA SUSSURRA
2. COMPANHIAS AÉREAS SÃO LASTIMAVÉIS
3. SUBMISSÃO ENTRE LÍNGUAS
4. O MITO DAS CULTURAS
Há outras duas crônicas já disponíveis nesta mesma seção, também fazem parte da coletânea “Crônicas de Viagem”.
1. TECENDO A VIDA NUMA IMAGEM INDESCRITÍVEL
2. A DELICADEZA DIANTE DE UMA FORÇA INCALCULÁVEL
Se por acaso não estiverem nada mais interessante para fazer, ou melhor, nada para fazer, então leiam-as em tempo oportuno. São crônicas curtas, não mais que uma ou duas e muito raramente ultrapassarão quatro laudas.