“ESDRÚXULO!” – AUGUSTO DOS ANJOS – IMAGEM: METADE HOMEM METADE CAVEIRA

Publicado: fevereiro 26, 2015 em Conto

Viajei para São Paulo para fugir da dita festa do rei momo e do chamado Carnaval. Fico pensando se François Rabelais estivesse vivo como estaria revirando-se no túmulo. Ou talvez sangrasse os tímpanos e os olhos. Enfim… Deixa isso pra lá. O fato é que além de ir lançar um livro por lá também fui rever alguns grandes amigos e amigas e, claro, perambular pela cidade como um andarilho errante, para saber o que estava rolando no cenário cultural.

A propósito, já foram ver “Esdrúxulo!”, na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos? A Casa das Rosas é um lugar interessantíssimo! Sempre pintava por lá quando morava em São Paulo, e agora não deixo de ir quando estou em terras paulistanas, sempre vou lá para saber o que está acontecendo naquele belo casarão encravado na Avenida Paulista…

“Esdrúxulo!”, para quem não está/estava muito acostumado com a poesia de Augusto dos Anjos e numa primeira vista parecia um troço bizarro, depois você acha bacana, porque aponta para um termo com certa polissemia, alta voltagem na poesia de Augusto dos Anjos. É. Trata-se de um sujeito controverso, de arrepiar a espinha e as estranhas. Há quem diga que sua poesia é pesada, escatológica, uma espécie de assombração para os nossos dias tão nebulosos, e os mais escrotos dizem ser uma poesia de carne apodrecida, de necrotério, no pior sentido dos termos. Ótimo! Os médicos agradecem, e muito! Entre um milhão de denominações para a poesia de Augusto dos Anjos, cito apenas uma para esta conversa: “Poesia Científica” ou “Ciência Poética”. E sabem onde tudo isso começou? É. Foi lá no Recife-PE séculos atrás! Esse nordeste é mesmo incrível, né não? Trilhões de traduções, críticas, textos, livros e estudos espalhados por todo o mundo, em lugares inimagináveis… Há quem diga ou pelo menos dizia que o lado de cá só há/havia mandacaru, macambira e terra gretada…tá…deixa isso pra lá.

Porra, Augusto dos Anjos, você é uma camarada injusto, sabia? Como é que faz uma coisa dessa com a gente? Escreve um livro e depois dá o fora deixando a gente aqui dentro desta canoa…deixa pra lá… Diante de um cara como esse, tenho até vergonha de colocar na orelha os nomes dos livros que publiquei… Mas isso já é outro assunto… Deixa isso pra lá… Para resumir, se ao ir embora depois de ter conferido a mostra você concluir que tudo aquilo lá não vale nada ou é algo um tanto bizarro, pelo menos sairá com uma certeza, você querendo ou não: “a certeza de que um dia você vai morrer”, mais cedo ou mais tarde. A questão é o que vai acontecer com o seu corpo e o que você vai fazer enquanto isso não acontece. Esse Augusto dos Anjos!, com um papo sempre reto e direto, sem firulas…

Opa! Tanto para aqueles que já conhecem quanto para os que ainda não conhecem a Casa das Rosas, então, ainda não terminei, porque ainda tem a parte lá de cima, principalmente para os que não conhecem, sigamos. Na parte superior tem aquela chamada mostra permanente com os trabalhos de Haroldo de Campos, passem lá e façam uma leitura, não precisa nem pegar um livro, visualmente mesmo já está de bom tamanho. Também tem a linda biblioteca, charmosa e aconchegante.

Dando uma olhada e fazendo uma leitura atenta, – é, sou muito atencioso quando estou nesses locais, não fui lá para selfs, tenho um corpo que se movimenta numa outra direção -, vi algumas revistas numa mesa de madeira, parecia jacarandá: um exemplar de um “Jornal de Poesia” com não mais que quatro páginas; dois ou três exemplares da “Revista Piauí” e um catatau da “Revista Pernambuco”. Por que será, hein? Tô aqui conversando com meus botões.

Dei uma folheada nas revistas e depois fui embora. Corram lá para dar uma apreciada, senão o bonde passa!

m.t.

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