16. voz do livro. estou em algum lugar desta avenida em constante estado de convulsão. aqui deitado neste chão de pedra e betume. os semáforos trocam suas cores e ouço buzinas enfurecidas pisando no asfalto quente com suas latarias. as ruas estão abarrotadas de gente perambulando de um lado para o outro e ninguém me escuta. aliás, todo mundo fala e ninguém quer escutar. será que um dia ainda haverá alguém para escutar? alguém escreveu um dia que somos seres insignificantes comparados às constelações e ebulições do universo, se o mundo eclipsasse neste exato momento não passaríamos de uma poeira quase invisível, um nada diante de explosões luminosas e vulcânicas. as posições espaços lugares são transitórios, não esqueçam, nunca serão para sempre até que a morte os separe. não alimentem ilusões sem sentido. qual a dificuldade de perceber que logo logo você será um cadáver, frio e esquecido?, como escreveu uma única vez um certo augusto. antes disso e em muito pouco tempo você pode vir a ser algo tão insignificante quanto uma folha seca esquecida na beira de uma estrada empoeirada onde ninguém passa por lá…o mundo tem pouca memória, acorde!… enquanto isso fico mudo deitado neste chão ardente e rude…
em algum lugar da avenida paulista. são paulo – sp – brasil.
marcos torres
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- quatro pilares. um teto de concreto. em cima, tintas seculares. lá embaixo, corpos esquálidos amontoados sobre os paralelepípedos, aquecendo uns aos outros. nessa zona de ausências cada um carrega sua própria humanidade, vigiados e punidos pelos olhares indiferentes dos automóveis no outro lado da rua. na mão e contramão a poluição segue no chão ardente para endereços incertos. e eu fico aqui ereto, no canto desta parede, com meu corpo-celulose dividido em páginas-silêncio… perto de algum lugar lá em cima no teto de cimento protegendo nomes mortos, guardados por paredes brutas… são paulo – sp – brasil marcos torres
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