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Aos que vierem depois de nós

Publicado: novembro 17, 2017 em Poesia

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Aos que vierem depois de nós
I
Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem

(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: “Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!”

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

 

II
Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

 

III
Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade

não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.
– Bertolt Brecht (Tradução Manuel Bandeira)

 

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Cartaz Chão Arejadoconvite-marcos

 

Faculdade Zumbi dos Palmares – FLINKSAMPA

* Abertura da Exposição Chão Arejado 16 de Novembro.

* Lançamento do livro Chão Arejado publicado agora em 2017 pela Editora Penalux – França & Gorj – 16 de novembro.

* Performance – “faça-me de poesia” – 16, 17 e 18 de novembro.

* Visita Guiada em meio a um bate-papo com alunos e alunas de escolas públicas da cidade de São Paulo – Arte-Educação.

Catálogo Chão Arejado

Publicado: outubro 25, 2017 em Literatura e Outras Artes, Poesia

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Catálogo Chão Arejado disponível para baixar gratuitamente em PDF

Em breve disponibilizaremos o catálogo também em e-book para ser lido nos diversos dispositivos disponíveis, os mesmos dispositivos disponibilizados pela Amazon e Apple para venda de livros em e-book. Oportunamente será disponibilizado também no suporte em papel em galerias de arte em Santo André-SP & São Paulo-SP.

Chão Arejado PDF

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Fórum de Debates
A Voz da Arte

Mesa 1 – A Palavra do Artista

Debates e discussões em torno do artista no seu trabalho transitando entre as diversas linguagens artísticas e suas articulações com outras artes. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.

Talles Colatino (UFPE),
Marcos Torres
Oriana Duarte (UFPE)
Mediador: Talles Colatino
Dia 16.08.2017 das 9:30 às 12:00 hs

Mesa 2 – Cinema & Recital Poético

Apresentação de filme e recital poético seguido de debate.
Dia 16.08.2017 das 14:30 às 17:00 hs

Mesa 3 – Processualidade, Parcerias e Amálgamas

Debates e discussões no horizonte da arte em processo, parcerias artísticas, amálgamas dentro da arte contemporânea e suas articulações com outras linguagens. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.

Paloma Vidal (UNIFESP)
Maria do Carmo Nino (UFPE)
Marcelo Farias Coutinho (UFPE)
Patrícia Tenório (PUCRS)
Mediadora: Maria do Carmo Nino
Dia 17.08.2017 das 9:30 às 12:00 hs

Mesa 4 – Teoria e Crítica Literária entre as Linguagens Artísticas

Debates e discussões no horizonte da teoria e crítica literária entre as linguagens artísticas e suas articulações. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.

Luciene Azevedo (UFBA)
Lourival Holanda (UFPE)
Eduardo Cesar Maia (UFPE)
Mediador: Lourival Holanda
Dia 17.08.2017 das 14:30 às 17:00 hs

Chão Arejado

Publicado: junho 16, 2017 em Eventos, Literatura e Outras Artes, Poesia

Livro – Exposição – Fórum de Debates

 

Esboço cartaz

Livro-Exposição

Publicado: março 29, 2017 em Eventos, Literatura e Outras Artes, Poesia

Em breve!

Livro-Exposição

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23.

habit-ações…

quantas pernas bamboleantes…

por que lá a maré nunca está boa?

e esta fuligem, este rio que passa sem ao menos dizer um adeus,

em meio ao rumor do tráfego lá em cima nos viadutos.

e esses ameaçadores automóveis com seus olhos de serpente;

este metal duro e indiferente.

por que essa gente vive tão separada por essas margens,

de um lado olhos sonolentos,

olhando para o outro lado da margem,

em frente a um amontoado de cascos duros com dedos em riste quase tocando o céu

com tamanha indiferença, silêncio e separação…

por que essas águas não responde o meu grito?

quais epidermes moram nestas habit-ações?

não sei o que responder ao  estômago quando ele começa a perguntar demais.

por que não encontro respostas para saciar o meu próprio corpo,

frágil e agonizante…

por quê?

m.t.

Foto e vídeo

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Alerta

 

Habit-ações

Lançamento e Exposição em breve!

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22.

daqui saiu a barriga onde um dia eu fui gerado em outra terra. aqui, onde tantos corpos são atravessados por faltas e escassez. onde o vento sopra vindo do lado deste imenso oceano com a face virada para outros continentes. neste extremo oriental do brasil onde o sol nasce mais cedo… estes versos do poeta, bailando com o vento nestas águas cor de anil…  se somos cidadãos e cidadãs do mundo por que pouco nos importamos com o que está acontecendo do outro lado do oceano, com o que está acontecendo próximo de nossa respiração, ao nosso lado? este mapa indiferente, separando os corpos, segregando as culturas no fundo deste oceano, por entre as folhagens dessas matas densas com galhos secos… uma pintura viva, poética, este cachorro deitado neste chão de terra macia, dormindo um sono tão tranquilo, em silêncio e ouvindo o sussurro do vento vindo do leste…tão diferente de baleia que falava pelo estômago, com seus ossos e pele duros como um cepo…

…estou deitado em um parapeito da janela de alguma casa feita de estacas e barro batido…

cabo branco – joão pessoa – paraíba – brasil

marcos torres

foto e vídeo

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22.1

…por que não apagamos as linhas dos mapas e juntamos os oceanos e pisamos em uma terra sem dono…

…estou sentado em algum arbusto por entre os galhos ou entre as folhas secas das árvores…

cabo branco – joão pessoa – paraíba – brasil

marcos torres

foto e vídeo

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