De 19 de janeiro a 19 de março de 2018
Santo André – São Paulo
De 19 de janeiro a 19 de março de 2018
Santo André – São Paulo
Galeria Gambalaia – Espaço de Arte e Cultura
Santo André – São Paulo
Santo André – São Paulo
Projeto Gráfico – Sergio Luiz
Edição de Vídeo e Documentário – Lais Rilda
Organização e Produção – Humberto Alex Lima
Aos que vierem depois de nós
I
Realmente, vivemos tempos sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.
Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?
É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: “Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!”
Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.
Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.
II
Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.
III
Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.
Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.
E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.
– Bertolt Brecht (Tradução Manuel Bandeira)
Faculdade Zumbi dos Palmares – FLINKSAMPA
* Abertura da Exposição Chão Arejado 16 de Novembro.
* Lançamento do livro Chão Arejado publicado agora em 2017 pela Editora Penalux – França & Gorj – 16 de novembro.
* Performance – “faça-me de poesia” – 16, 17 e 18 de novembro.
* Visita Guiada em meio a um bate-papo com alunos e alunas de escolas públicas da cidade de São Paulo – Arte-Educação.
Catálogo Chão Arejado disponível para baixar gratuitamente em PDF
Em breve disponibilizaremos o catálogo também em e-book para ser lido nos diversos dispositivos disponíveis, os mesmos dispositivos disponibilizados pela Amazon e Apple para venda de livros em e-book. Oportunamente será disponibilizado também no suporte em papel em galerias de arte em Santo André-SP & São Paulo-SP.
Fórum de Debates
A Voz da Arte
Mesa 1 – A Palavra do Artista
Debates e discussões em torno do artista no seu trabalho transitando entre as diversas linguagens artísticas e suas articulações com outras artes. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.
Talles Colatino (UFPE),
Marcos Torres
Oriana Duarte (UFPE)
Mediador: Talles Colatino
Dia 16.08.2017 das 9:30 às 12:00 hs
Mesa 2 – Cinema & Recital Poético
Apresentação de filme e recital poético seguido de debate.
Dia 16.08.2017 das 14:30 às 17:00 hs
Mesa 3 – Processualidade, Parcerias e Amálgamas
Debates e discussões no horizonte da arte em processo, parcerias artísticas, amálgamas dentro da arte contemporânea e suas articulações com outras linguagens. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.
Paloma Vidal (UNIFESP)
Maria do Carmo Nino (UFPE)
Marcelo Farias Coutinho (UFPE)
Patrícia Tenório (PUCRS)
Mediadora: Maria do Carmo Nino
Dia 17.08.2017 das 9:30 às 12:00 hs
Mesa 4 – Teoria e Crítica Literária entre as Linguagens Artísticas
Debates e discussões no horizonte da teoria e crítica literária entre as linguagens artísticas e suas articulações. Atividade com duração entre duas e três horas. Há possibilidades de recital poético, mostra de vídeos e documentários entre outras intervenções artísticas.
Luciene Azevedo (UFBA)
Lourival Holanda (UFPE)
Eduardo Cesar Maia (UFPE)
Mediador: Lourival Holanda
Dia 17.08.2017 das 14:30 às 17:00 hs
Livro – Exposição – Fórum de Debates
Em breve!
Livro-Exposição
Tantos desafios vencidos e tantos outros ainda a enfrentar ao longo da estrada…
No Meio do Caminho – Carlos Drummond de Andrade
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
Mas vamos sempre seguindo, mesmo diante de tantos perseguidores implacáveis junto aos seus conselheiros pérfidos, onde a mais completa indiferença já não basta mais, é preciso esquartejar e expor os pedaços em praça pública – principalmente quando alguém se ausenta de alguns encontros (ao dizer prefiro não) no salão d’O Grande Gatsby entre convidados e intrusos atrasados há pelo menos meio século – (“por favor não saiam da praça antes de ouvir o último suspiro e ver a última gota de sangue cair sobre o adubo para alimentar os vermes. é preciso ter certeza de que tudo realmente se esvaiu. obrigado!”), para alimentar a sociedade do espetáculo nessa aldeia global e buscar disciplinar, controlar e dilacerar os corpos, com seus atuais projetores ferozes sempre a nos vigiar com seus óculos infravermelhos sob uma luz mortiça mirando os indulgentes, tentando sufocar e matar suas sobrevivências, o lampejo fugaz com sua faísca de esperança, diante de um mundo que perdeu quase todas as suas ilusões e grande parte de sua esperança para dar lugar a um outro tipo de ideologia, muitas vezes com discursos que já nascem com certidão de óbito desde a primeira letra…, ainda assim vamos seguindo, nem que seja para alimentar um único grão de esperança, mesmo nestes tempos de morte da experiência e de pobreza, em meio a todas as formas de violência e barbárie…mas, não esqueçam jamais, as sobrevivências são indestrutíveis e continuarão lançando seus lampejos pobres e precários, fugazes, com suas luzes intermitentes… aprendendo a sonhar e renascer como uma fênix todos os dias. Agradeço a *Poesia por acalentar grande parte de minhas dores…
*Obrigado Drummond por escrever algo tão profundo com tanta simplicidade.
Até qualquer dia, especialmente para aqueles e aquelas que estão no limiar das sobrevivências…
m.t.