“UM PRATO PARA QUEM TEM FOME” – Parte II

Publicado: maio 25, 2013 em Conto

“A RECEPÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA NO EXTERIOR”

III Encontro do Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea – Instituto de Letras – UFRJ – 19 e 20 de setembro de 2012
RESUMO
O Fórum de Literatura Brasileira Contemporânea transformou a Faculdade de Letras da UFRJ em polo de reflexão sobre a poesia e a prosa nacionais de nosso tempo. Nascido de uma revista semestral atualmente com sete edições no ar, o projeto se faz também de grupos de pesquisa e deste encontro anual de estudantes, pesquisadores e professores do país e do exterior.

Não existe uma definição universal de escritor. Apreende, assim, a escrita como um lugar de negociação, o que pode causar espanto a alguns mais inclinados a perpetuar o romântico estereótipo do criador incriado, presa unicamente dos caprichos da inspiração. O conceito de campo literário é uma possibilidade mais versátil de entendimento da engrenagem que envolve a produção, a circulação e o consumo do material artístico. Estreitamente vinculado à noção de valor, pressupõe tomadas de posição que definem a boa ou má acolhida das obras em seu interior e sua duradoura ou efêmera permanência na memória do sistema literário.
Pierre Bourdieu

Essas são as premissas básicas e fundamentais de Pierre Bourdieu, cujas reflexões estão compiladas no livro As regras da arte. São reflexões teóricas muito importantes sobre a noção de Campo Literário. Aí estão as premissas fundamentais para todo o argumento teórico de Pierre Bourdieu, sobre Campo Literário e seus desdobramentos.

Nota: O Resumo que será aqui apresentado trata-se apenas de um panorama sobre o que está acontecendo no cenário literário brasileiro e internacional. Não se trata de apresentar fórmulas mágicas e muito menos estratégias para as escolhas de quem e/ou o que devem ou não ser publicados. São apenas pontos de vista que podem inclusive em certos momentos ser equivocados como qualquer outro. Não serão apresentados os dez mandamentos de Moisés, que quase ninguém segue muitos deles até os nossos dias. O que é importante nessas informações é que elas devem passar por um processo de filtragem e ser articuladas com as ações presentes e futuras a partir da política editorial de cada Editora interessada nas informações aqui contidas, sempre considerado aquilo em que a Editora acredita para suas ações presentes e futuras. Este resumo busca muito mais apresentar proposições do que respostas prontas.

Apontarei alguns tópicos importantes que são extremamente relevantes para pensar sobre o funcionamento da literatura no cenário nacional e internacional e quais estratégias podem ser usadas para entender como opera o Campo Literário e como capturar os leitores contemporâneos.

A maioria dos pontos de vista contidos neste resumo faz parte de posições minhas como pesquisador (inclusive muitos pontos de vista aqui apresentados fazem parte do meu corpus de investigação e pesquisa sobre campo literário apresentado no programa de pós-graduação em literatura e cultura). Em nenhum momento estará a voz do escritor e leitor.

Segue um elenco de tópicos importantes que servem como provocação e que devem ser respondidos ao longo do tempo em suas estratégias comerciais e editoriais.

1. Visão geral dos últimos vinte anos – Agente Literário no Brasil. Por Lucia Riff

1.1. O livro durante muito tempo alcançava no máximo 100.000 (cem mil exemplares). Hoje já ultrapassa a casa de 1.000.0000 (um milhão de exemplares): quais as estratégias de venda e distribuição? Como capturar o leitor? O que fazer para capturar o leitor de Paulo Coelho, Padre Marcelo Rossi e os livros da literatura fantástica com enredos povoados de personagens vampiros e duendes…? O que fazer e qual a saída?

1.1.2 A quase inexistência de agentes literários tanto no Brasil como também em muitos países da Europa e América Latina é em função da impaciência e da busca por resultados imediatos (cf. Nicole Witt). Qual postura deve-se ter? Por Lucia Riff.

1.2. O que falta na narrativa brasileira contemporânea? Como aumentar o número de leitores plenos, no Brasil, para que a literatura brasileira seja importante no cenário literário internacional? Uma das saídas apontadas é o aumento de leitores plenos, no Brasil. O que é isso e como fazer? Por Luciana Villas-Boas

2. Estratégia para inserção na Feira do Livro de Frankfurt.

3. É importante saber administrar o constante interesse do Exterior pela Literatura Brasileira.

4. Alguns autores muitas vezes ganham muitos prêmios no Brasil, mas no cenário internacional são apenas mornos em relação à venda de livros e sua recepção; muitas vezes beiram ao fracasso. Autor que ganha prêmio não é segurança de boas transanções comerciais no Exterior. Tem autor que vende bem no Brasil e ganha prêmio, mas não funciona para o mercado editorial internacional. Outros autores têm uma venda muito pequena e jamais ganharam um prêmio no Brasil, mas muitos dos seus livros muitas vezes foram vendidos para mais de vinte países. Pensar sobre esta questão.

5. É preciso entender como o mercado nacional e internacional operam, para saber usar as estratégias adequadas para obter bons resultados. O Campo Literário encontra-se num estágio muito complexo e é importante perceber essa mudança. Não dá, por exemplo, para viver apegados a certas utopias e a comportamentos demasiadamente ‘subversivos’. Não dá mais para, por exemplo, ser um outro Flaubert, Baudelaire ou Augusto dos Anjos (trazendo este último para mais próximo do nosso contexto). O mundo está girando num outro time e é preciso ter essa percepção, especialmente quando exige e pede outro tipo de discurso: diálogo, relativização, flexibilização, saber equacionar e tentar encontrar um ponto de equilìbrio para poder operar nesse sistema que já está aí andando na velocidade do vento, a fim de sanar certas discrepâncias, ou não (não sei).

6. Deve atentar para perceber como anda a recepção e buscar estratégias para capturá-la. Autores e autoras que escrevem quase como um Dostoiévski, Nabokov, Joyce, Faulkner, Austen, Woolf, Lispector, Kafka, Hesse, ou seja lá quem for (a perguntar é: Será isso mesmo que o leitor quer? Será isso mesmo que vai capturá-lo?), é com isso realmente que o leitor será capturado ou será uma negociação entre algo desta envergadura conjugado com uma assinatura contemporânea? O que quero dizer é que muitos desses leitores nunca leram ou mesmo ouviram falar sobre esses autores e autoras, e quando isso aconteceu (leram) muitas vezes foi porque foram obrigados por seus pais, suas escolas e universidades ou mesmo para fazer parte de uma cultura que se proclama e é proclamada como altamente erudita por conta disso (será?). (E não estou falando de Brasil e sim de um contexto e fenômeno mais global).

6.1 Se os leitores nunca ouviram falar de nenhum desses autores e autoras então pouco ou nenhuma diferença vai fazer se o autor em questão escreve igual ou muito diferente de todos esses autores e autoras citados anteriormente. Talvez uma negociação entre uma “boa narrativa” e uma dicção ficional que consiga capturar o leitor de alguma maneira, pode ser uma boa dosagem para promover um diálogo entre leitor/texto/autor/literatura/cultura. Isso não significa que deve ser dado ao leitor o que ele quer. Não é isso. É importante apresentar um livro em que o leitor faça algumas perguntas a si mesmo: porque este livro está escrito desta forma e não de outra, COMO foi escrito, o que eu posso capturar dessa leitura e qual o ponto de vista ali engendrado? Aqueles que desconsideram este contexto e algumas destas questões devem estar dispostos a pagar um preço muito, muito caro!

7. Informação importante dada por Lucia Riff: narrativa não-ficcional pode ser muito importante e ter alguma ressonância aqui no Brasil e até mesmo fazer sucesso pelas bandas de cá. Mas para o mercado editorial internacional isso significa pouco ou quase nada, infelizmente. Se eles não conhecem o contexto dessas narrativas, o livro pode beirar ao fracasso e o acesso no estrangeiro estar próximo de zero. Narrativas como/baseada na Guerra dos Farrapos, dos Emboabas, Canudos, Revolução daqui, Revolução dali, História disso, História daquilo, nada disso funciona no mercado literário internacional (estou falando de volume de tiragem e venda de livros). Eles querem consumir ‘ficção’ (ROMANCE, Conto, Poesia). Infelizmente, o Brasil já tem uma etiqueta apavorante dentro do cenário literário internacional e é preciso trabalhar duro para mudar esse paradigma: País excêntrico e exótico! Se o Brasil quiser se inserir no mercado literário internacional com alta voltagem, deve apresentar inicialmente uma literatura de qualidade, no horizonte da prosa ficcional. No mais, o caminho é muito, muito longo…

8. Outra informação muito importante: O inglês deve liderar por mais alguns anos como Língua Oficial para todas as transações comerciais dentro do cenário literário internacional, e mais adiante o Espanhol será a bola da vez e tomará a dianteira nesse cenário. O Português deve esperar por mais algumas décadas para liderar estas rodadas de negociações dentro do cenário literário internacional. Embora o Português venha tendo cada vez mais espaço como Língua para transações comerciais, ainda está um pouco distante para dominar o cenário literário internacional. Mas as coisas podem mudar no desenrolar dos acontecimentos.

9. Importante: Vestir-se de certos aparatos ideológicos e mais especificamente o religioso e o político-partidário podem ser entraves para avançar (A Literatura não oferece barganha; quando isso acontece, já nasce falida). Aparatos desta natureza podem custar um preço muito elevado e é preciso estar disposto a pagar esta conta!

– Estas foram as minhas articulações dentro do Fórum de Literatura Brasileira, e este é o cenário que se apresenta até o momento. É importante entender e saber o que está acontecendo para saber operar dentro deste cenário. Do contrário tudo vai continuar como d’antes: três ou quatro Editoras puxam a primeira fila e dominam todo o cenário nacional e praticamente todas as articulações internacionais; as demais puxam a segunda, terceira, quarta…filas engrossando o coro dos descontentes e esperando ver o que acontece.

O mais curioso é que não havia nenhum/a representante de Editora. Mas isso é uma outra história que fica para um outro momento. Na verdade, este é apenas um breve resumo dos debates que foram travados ao longo de intensos dois dias, e que talvez precisasse de 40 páginas, no mínimo, para poder apenas esboçar parte do conteúdo ali efetivamente discutido. Mas infelizmente o tempo rema contra a maré, e outros afazeres tiram-me de tal empreitada.

Espero ter contribuído para algumas ações presentes e futuras de parte especialmente das editoras.

Sigo aguardando os novos desdobramentos no desenrolar dos acontecimentos.

Marcos Torres

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