PREDADOR
Lá vem
o algoz correndo atrás da presa,
lambendo o chão de tinta vermelha
com cheiro de carne fresca,
as unhas de dentre-de-sabre
ao encalce do homem da senzala.
O hálito soltando fogo,
como um dragão soprando fumaça
atrás da nuvem escura;
a boca bafora cicuta e cospe detritos
na têmpora do desgraçado.
O maldito chora escondido
em frente aos olhos da serpente,
atrás do cobertor de papelão,
e fica protegido por um artigo, parágrafo ou inciso 3,
no óbito de uma celulose,
quase apagado ou derramado como água salobra.
O predador fica à espreita
derramando saliva no canto da boca,
depois dorme numa cama macia
e espera o maldito sair do gueto para dar o bote.
M.T.